Histórias de Moradores de São Luis

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores da cidade.

História da Moradora: Raimunda Wandelina Dias Neves
Local: Maranhão
Publicado em: 11/08/2003

História: O meu filhou comprou uma casa para mim aqui


História

ENTREVISTA NA ÍNTEGRA
O meu nome completo é Raimunda Wandelina Dias Neves. Nasci em São Luís do Maranhão, no dia 31 de agosto de 1952.

MIGRAÇÃO
Ah, eu vim para o Rio de Janeiro, eu ia fazer 15 anos de idade. Minha mãe trabalhava aqui no Rio, no Ministério da Justiça, e eu vinha passar todas as férias. Quando eu completei a idade de 14 anos eu vim definitivamente morar aqui no Rio de Janeiro. Porque até então ela não tinha com quem me deixar. Eu morava no Maranhão com a minha tia e nas férias de junho e dezembro eu vinha passar aqui com a minha mãe. Aí eu vim para cá, comecei a estudar, casei aqui, e vim. Morei no bairro de Fátima, morei ali na Cruz Vermelha, aí por último eu vim morar aqui no Morro dos Prazeres.

MORRO DOS PRAZERES
Eu nunca tinha nem visto falar do Morro dos Prazeres. Nunca nem tinha. Eu só vinha aqui de Santa Teresa no bondinho. Eu vinha de vez em quando eu passeava pelo bondinho para ir no Cristo Redentor. Mas eu nem sabia que existia o Morro dos Prazeres. A gente às vezes vive em um lugar, e não sabe que mais tarde você vai morar naquele lugar. Para mim é uma surpresa morar aqui. Eu vim morar no Morro dos Prazeres com meu marido, porque onde eu morava pagava o aluguel muito caro. E meu pai faleceu, eu não tive mais condições de pagar aluguel, vim morar aqui no morro. O meu filhou comprou uma casa para mim aqui. Fez um ano em março que eu moro aqui. Eu vejo as pessoas contando que o Morro dos Prazeres era um morro que tinha muitas festividades, e as pessoas se uniam, faziam mutirões...

Eu não tenho nada para falar de mal do morro, porque eu gosto muito daqui. Mas o que mais eu amo aqui o morro, porque aqui é o meu primeiro emprego. Eu trabalho aqui no Casarão dos Prazeres, e aqui foi o meu primeiro emprego. Então isso é um marco na minha vida. Eu tenho isso aqui como a minha segunda casa. Eu amo esse espaço, eu amo esse morro. Na minha chegada aqui no morro as pessoas me receberam muito bem. Eu tenho um bar na minha casa que eu abro de vez em quando, faço comida. Gosto muito dos moradores, não tenho nada que falar deles. O que eu tenho que falar do Morro dos Prazeres é que ele seja sempre Morro dos Prazeres, de todas as formas.

CASARÃO DOS PRAZERES
Meu primeiro emprego foi no Casarão. E já vai fazer um ano. Eu vim para cá no dia 16 de outubro de 2001. Eu sou servente, eu cuido da manutenção daqui. E tudo que tiver para mim fazer, que tiver ao meu dispor, eu estou entrando, eu estou fazendo. O Casarão é tudo para mim. Falar no Casarão para mim, eu fico até emocionada. Porque eu tenho 49 anos e eu nunca trabalhei na minha vida.

Então quando a ex-Diretora, Ionete, chamou, perguntou se eu poderia vir fazer faxina, eu olhei assim e falei: “Eu faço, sim.” Mas eu jamais poderia imaginar que era para mim vir trabalhar aqui no Casarão. Tanto é que quando eu cheguei na empresa, eu fiquei tão emocionada que eu não tive nem como perguntar para o moço para que era aquilo. Aí eu fiz a ficha, ele falou: “A senhora agora vai passar no centro médico.” Quando eu cheguei no centro médico a minha pressão subiu de uma maneira que eu nem sei, tal era a minha emoção porque quando ela falou: “A senhora está empregada”, eu fiquei tão nervosa que a minha pressão subiu. Eu falei: “Ih, a minha pressão subiu. Eu sou hipertensa? Mas a minha pressão subiu é por causa da emoção, porque eu nunca trabalhei na minha vida.” Ela falou: “Foi por isso mesmo. É pela emoção que a sua pressão subiu.” Aí eu vim trabalhar aqui. Quando eu vim trabalhar aqui eu gostei, porque a Ionete tratava muito bem, depois veio a Bernadete, que para mim...

Eu falo da Bernadete, eu tenho a Bernadete como uma mãe para mim. A Bernadete é uma pessoa que ela está ali junto. Eu divido com ela as minhas tristezas, as minhas alegria. Ela faz coisas por mim, que só Deus mesmo. Eu fico assim quando eu falo, quando eu penso nela. Um dia se ela for embora, um dia que a firma acabar o contrato, eu não sei... Porque eu já acostumei. Eu prefiro, às vezes eu fico em casa, me dá saudade daqui. Muitas das vezes termina todas essas atividades, o horário de trabalho que é de oito às cinco, eu fico rondando por aqui, sabe? Porque eu prefiro ficar mais aqui do que dentro da minha casa. Eu me sinto melhor aqui do que dentro da minha própria casa.

Porque chega em casa, sempre tem uma confusão, uma coisa desarrumada... E aqui não, é uma alegria, uma descontração. Teve um aniversário dela, nós fizemos um almoço, uma confraternização tão bacana... Tem colônia de férias aqui, aquela criançada sobe e desce, e eu pego vassoura querendo bater nas crianças... Quer dizer, eu ponho para fora aquilo que na minha infância eu não tive. Eu ponho para fora aquele ego que eu gostaria de ser sempre, aquela alegria, aquela espontaneidade. Sem ter aquele negócio de fingimento, de falsidade. Porque aqui nós não somos diretora e funcionária. Nós somos uma família, para toda obra. Eu faço cafezinho, eu dou água. Quer dizer, é uma coisa boa, é uma coisa gostosa trabalhar aqui no casarão.

AVALIAÇÃO DO PROJETO
Eu gostei de ter participado porque as outras pessoas vão saber que no morro não tem só criminalidade, tem gente trabalhador, tem gente honesto, tem gente capaz de fazer muitas coisas. Tem pessoas aí no morro que são artesãos... Tem muitas pessoas que... Daqui para fora a sociedade pode ver que no morro também tem gente, seres humanos, não é só aquela imagem de criminalidade, não. No morro existem muitas pessoas boas e honestas. Porque às vezes o morro é taxado que no morro só mora bandido. Mas não, no morro tem muitas pessoas honestas, trabalhadora, muitas jovem estudando, muitos rapazes. Porque você vê, são dos morros que geralmente saem muitas pessoas para a sociedade. Não é só aquela imagem negativa que nós temos de quem mora no morro.

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